segunda-feira, fevereiro 08, 2021

BLACK SABBATH: ritmos cubanos, experimentação, colapsos e teclados em "Vol. 4".

TÍTULO ORIGINAL:
How Drugs and Experimentation Became the Main Ingredients for Black Sabbath’s Vol. 4.

AUTOR: 
Bryan Reesman.

LINK ORIGINAL: 
https://blog.discogs.com/en/black-sabbath-vol-4-album-retrospective/?utm_source=homepage&utm_medium=discogs&utm_campaign=Artist_2021_01_22

PUBLICADO EM:
22/01/2021.

TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO:
Willba Dissidente.

Rock Pesado e experimentação sempre formaram estranhas combinações. Parte do que torna o gênero querido para seus fãs é a maneira como ele não se ajusta ao mainstream. No entanto, embora alguns fãs gostem de bandas que tentam se arriscar musicalmente, há quem prefira que as bandas mantenham seu som clássico porque é esse o som que os fascinou. Todavia, "sair da caixa" frequentemente leva a gravações clássicas que resistiram ao teste do tempo.

Caso em questão: "Vol. 4" do BLACK SABBATH. Como Steve Huey do AllMusic, observou: "Fãs fieis, cansados ​​dos padrões, ouvem esse álbum e alguns acabam o tendo como seu disco favorito do Sabbath por suas excentricidades e pela incorporação dos excessos da banda." O primeiro trabalho auto-produzido do grupo, "Vol. 4" definitivamente possuía os elementos sombrios e arrastados que os tornaram tão populares em seus três primeiros lançamentos - "Black Sabbath", "Paranoid" e "Master of Reality" - mas este expandiu paleta auditiva da banda em várias maneiras. Ele também mostrou um apetite crescente por substâncias ilícitas.

BLACK SABBATH (1972) Vol. 4



Após escrever seu ode a 'Sweet Leaf" ("erva doce" em tradução livre, canção cuja letra supostamente fala do uso de maconha) em seu terceiro álbum, os membros do Sabbath foram "Snowblind" (canção cuja letra supostamente fala do uso de cocaína) no "Vol. 4", com suas composições e execução impulsionadas por fileira após fileira de ouro branco. De acordo com dados recentes oferecidos pela banda, o "Vol. 4" custou U$ 60.000 para fazer. Em outras declarações, eles supostamente gastaram US $ 75.000 em montanhas de cocaína. Geezer Butler, o baixista, diz que metade do orçamento do álbum foi para as drogas, então, juntando as declarações, o álbum custou US $ 105.000, 00. Naturalmente, essa revelação pública não aconteceu até muitos, muitos anos depois, muito depois de grandes carregamentos serem contrabandeados para as casas e estúdios dos membros da banda.

Ao lado dos excessos do Rock'n'Roll,  o verdadeiro motivo de "Vol. 4" se destacar como um dos melhores lançamentos de Sabbath é que eles foram capazes de expandir seu som sombrio, que provou ser influente nas futuras gerações de Metalheads. Eles certamente estabeleceram as bases para as bandas de Stoner, Doom e Sludge que vêm surgindo desde a década de 1980.




Ozzy Osbourne na mesma pose da emblemática capa de "Vol. 4". Fonte: divulgação.


Os três primeiros álbuns do Sabbath foram gravados em Londres com Rodger Bain, mas o produtor e o grupo (vocalista Ozzy Osbourne, guitarrista Tony Iommi, baixista e principal letrista Geezer Butler e baterista Bill Ward) não estavam em sintonia na direção deste quarto disco. Assim, a banda e seu empresário, Patrick Meehan, decidiram cuidar sozinhos dos afazeres de estúdio. Eles voaram para Los Angeles e alugaram a mansão no estilo dos anos 1930 do então proprietário Josh Du Pont (então herdeiro da fortuna da família DuPont e mais tarde o único executivo da Fortune 400 a ser condenado por assassinato). A casa estava localizada em 773 Stradella Road, em Bel-Air, que certamente era um local chique para o grupo de operários britânicos de Birmingham. Eles ensaiaram na casa e gravaram no Record Plant em Hollywood durante maio de 1972. O álbum foi lançado no final de setembro.


O sol extra e os arredores vibrantes do sul da Califórnia não amenizaram o peso do BLACK SABBATH, mas ampliaram os horizontes da banda. A triste balada, "Changes", executada no piano e no mellotron foi algo inesperado e mais acústico por natureza, com o vocal sincero de Osborne emitindo letras simples inspiradas pelo divórcio vindouro de Ward. “Supernaut” tem levada impulsionada por ritmos ao estilo cubano. O bucólico instrumental “Laguna Sunrise”, supostamente inspirado por Iommi viajando no ácido em Laguna Beach, colocou sintetizadores de cordas angelicais sobre violões acústicos tranquilos, relembrando o enfoque acústico de “Orchid” de "Master Of Reality". "Tomorrow's Dream" vêm com refrão cativante que é tocado só uma vez. O instrumental experimental “FX” surgiu de uma confusão na guitarra que levou a uma colagem de som curta e repleta de reverberação.





"Um dia, tirei meu violão e o coloquei num pedestal. Quando fui o abaixar ele caiu fazendo BOING", lembrou Iommi para a revista Classic Rock em 2019. "Por nada na vida eu lembro o porquê de termos ficado pelados, mas foi assim que gravamos 'FX',  pulando em volta, pelados, batendo no violão. Nós estávamos chapados, é claro".

E então, temos o obrigatório elogio ao seu ingrediente secreto, chamado "Snowblind", sobre o pesadelo eufórico da droga utilizada, que acabou tendo até uma seção de cordas. Esse título foi sugerido para o álbum também, mas o selo estadunidense da banda, Warner Bros, não gostou da conotação que ele apresentava para o público em geral. Então, se decidiu pelo mais básico "Vol. 4".

No que tange o vício mortal, a música do BLACK SABBATH não caia pela tangente.  Alguns podem até dizer a coesão musical inconsciente do álbum foi resultado dos excessos da época, mas é a inesperada diversidade que se mantém elogiada pelos fãs e críticos há quase 50 anos. 

"Os três primeiros discos podem ser colocados todos na mesma fornada, mas ("Vol. 4") foi quando nós começamos a introduzir elementos diferentes", Iommi escreveu em livro de memórias "Iron Man: My Journey through Heaven and Hell with Black Sabbath" (2011) . Eu encontrei um piado no salão de baile da casa e costumava tocar aquela coisa após milhões de fileiras de cocaína. Eu nunca tinha tocado um piano antes e comecei a aprender lá e então, em algumas semanas. Preste atenção, eu ficava acordado a maldita noite toda após uma fileira de cocaína, tocava um pouco, outra fileirinha, então eu fiquei acordado o equivalente a seis semanas".


 

Escutar o piano, arranjos de cordas e mellotron num disco do BLACK SABBATH pode soar destoante para muitos fãs leais, mas os anos 1970 foram época de experimentação para muitos nomes do Heavy Rock. Considerando que o BLACK SABBATH era ponto zero para o nascimento do som pesado em Birmingham, Inglaterra, ainda não haviam regras para o gênero que nascia. De fato, eles estavam escrevendo muitas regras. Lá pelos anos 1980, muitas bandas de Heavy Metal tradicional iriam banir o piano e teclados em favor do som pesado e orientado para a guitarra.

A experimentação e mente aberta abriram a porta para mais instrumentações mais ecléticas em seu próximo álbum, "Sabbath Bloody Sabbath". Este opus incluía cravo, flauta, gaita de foles, bongôs, tímpanos, palmas, cordas e o teclado de RICK WAKEMAN em "Sabbra Cadadra". O estrondoso quarteto até convocou o English Chamber Choir para a sublime instrumental "Supertzar" em seu sexto álbum, "Sabotage".

Os excessos do BLACK SABBATH chegaram ao topo no "Vol. 4" e o grupo começou a superar seus vícios, após seu comportamento gerar consequências. Durante a produção do disco, eles pregaram uma peça no baterista Bill Ward, na qual seu corpo foi pintado com spray de tinta dourada que supostamente era venenoso. Osbourne frequentemente desmaiava de tanto farrear, onde ele perdia completamente a noção de tempo. Enquanto eles estavam em turnê naquele ano, alguém colocou drogas na bebida de Butler, levando a uma espontânea tentativa de suicídio no Hotel. "Tony e Bill tiveram de me segurar na cama", Butler contou jornal The Guardian em 2013. "Eu comecei a me distanciar das drogas depois disso". Iommi disse ter sofrido um colapso após a apresentação no Hollywood Bowl no meio de setembro de 1972 após ingerir muita cocaína. Esse incidente levou ao cancelamento das datas restante na turnê pela América do Norte e colocou a banda de folga por dois ou três meses. Esse tempo para descansar era algo que ele precisavam desesperadamente depois de cinco anos seguidos de turnês e produção de álbuns. 


 

Não obstante os problemas relacionados às drogas, "Vol. 4" se tornou uma rica tapeçaria de sons pesados e suaves, momentos escuros e claros que demonstram as diferentes facetas musicais do BLACK SABBATH. O álbum quebrou as barreiras da música pesada e facilmente destrói o estereótipo que esse gênero é simplesmente uma monolítica parede de som que só serve para fazer estourarem seus tímpanos. Se algum detrator quiser discutir isso, o faço ouvir "Vol. 4" o mais rápido que puder. Isso deve o calar a boca. Talvez, o faça sorrir também.

Publicado em parceria com a Rhino. 

Site relacionado:

https://www.loudersound.com/features/fear-and-loathing-in-los-angeles-the-story-of-black-sabbaths-vol-4

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