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quarta-feira, outubro 24, 2018

SCALPED: "humanizar o massacre não é a solução".

RESENHA: Synchronicity of Autophagic Hedonism - Scalped.
NOTA: 8,0.

Ativa desde 2012 honrando o Metal Extremo da capital mineira, o SCALPED é um quinteto de Death Metal técnico bem na linha de outros clássicos de Belo Horizonte, como MUTILATOR e SEXTRASH. Após um Ep, o conjunto soltou nesse ano seu primeiro trabalho completo. Com nomes difíceis de pronunciar e escrever, "Synchronicity of Autophagic Hedonism" é uma coleção de músicas bem diversas entre si; há passagens splatter, thrash metal, black metal, alguns temas sem solo de guitarra, porém todas extremamente Death Metal com letras intrigantes, conduçõess muito bem sacadas de bateria e um final, no mínimo, instigante.



Formado pelo guitarrista Claydson (com passagens pelo PATHOLOGIC NOISE, DARK SUFFERING e DEVASTATION KAOS) e o baterista Marcelo, o guitarrista Thiago e o vocalista Fernando comandam as composições no cd de estréia do SCALPED. Com duas regravações do EP anterior, é difícil definir qual a linha condutora de Synchronicity of Autophagic Hedonism, em que a bateria que abusa de andamentos ousados de Marcelo, acompanhado por Bruno no baixo, e o vocal de "porco grunhindo no meio de uma caverna", são o que chama atenção de imediato.


"Fulminant Idiosyncrazy", inclusive, já abre a bolachinha com introdução da bateria num estilo que lembro um cado  o DEATH  de meados da década de 1990, com refrão repetindo poucas vezes. "Final Round" dá continuidade ao álbum com passagens mais cadenciadas no canto e mais splatter no refrão. Em "Natural Disgrace" não há refrão, mas sim uma disputa de solos entre os guitarristas. O brutal death retorna com tudo em "Overpopulation", com eminencia para o interlúdio matador após o solo. "Destruction and Chaos" é o tema mais thrash da presente trabalho.



Harpejos, paradinhas mortais e Death-thrash definem a regravação de "Pschycopath". "Chemical Empire" tem andamento jazzístico e os solos mais lentos e cheios de feeling; que contrastam com a seguinte "Sadisc Evolution", que é jazzistica também, mas as guitarras nem solam. "Fuck Your Opinion" fala das tretas virtuais no facebook, tema que também já foi abordado anteriormente pelo NERVOSA, e tem o refrão mais marcante da obra. Os leitores mais atentos notarão que os nomes das canções citam temas controversos bem atuais, deixando mensagens para os headbangers pensarem, o que é muito positivo. Faixa-título da banda, "Scalped"apresenta os riffs mais desgraçados do cdzinho. "Blood, Pain and Feeling" é aquela canção experimental que você fica em dúvida se deveria estar no disco. É um tema cíclico, de duração exorbitante: mais de dez minutos para abrigar intro de chuvas, dedilhados, piano, violino, orquestra (quem teria gravado esses instrumentos?), que em nada lembra as demais dez canções do disco. Além disso, o tema de encerramento ainda possui solos de guitarra mais melódicos que poderiam ter sido aproveitados em algumas canções do cd. Seria menção a algum álbum de Death Metal com final estranho ou estaria o SCALPED inovando na cena?



Ao fim dos seus 44 minutos duração, ainda que muitos vão ouvir somente até os 35, o SCALPED apresenta um trabalho, coeso, preciso, com boa produção e encarte profissional de 16 páginas e arte incrível. Pessoalmente, curti mais a capa traseira que a capa mesmo do disco, por essa me lembrar o clássico "Grito Mortal" do RETROSATAN. Inclusive, "profissional" é uma ótima palavra para sintetizar o SCALPED, com seu Death Metal comprometido com a realidade atual e com grandes chances de se tornar realidade o crescimento do grupo.

Indicado para os fãs de: DEATH, VADER, NECROBIOTIC.

SCALPED:


Fernando Campos - Voz.
Thiago Macedo - Guitarras.
Claydson Silva - Guitarras.
Bruno Mota - Baixo.
Marcelo Freitas (ex- COFFINFEEDER) - Bateria.


Discografia:

Pyschopath (2014, Ep, Cd).
Synchronicity of Autophagic Hedonism (2018, Full-lenght, Cd).


Synchronicity of Autophagic Hedonism - Nacional, Songs for Satan, 2018, 43:49.


Tracklist:

01 . Fulminant Idiosyncrazy (03:52)
02 . Final Round (02:11)
03 . Natural Disgrace (03:15) 
04 . Overpopulation (03:10) 
05 . Destruction and Chaos (02:39) 
06 . Psycopath (03:36) 
07 . Chemical Empire (03:29) 
08 . Sadistic Evolution (04:02) 
09 . Fuck Your Opinion (02:34) 
10 . Scalped (03:11)
11 . Blood Pain and Feeling (11:50)

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quarta-feira, outubro 03, 2018

AGGRESION: "Satã fala e faz".

Resenha: Revoada de Bruxas - Aggresion.
Nota: 9,0.

"Profanando os sacramentos em flechas satânicas", o power-trio AGGRESION chega "de corpo e alma a satã" em seu terceiro registro fonográfico, o full-lenght "Revoada das Bruxas". Todo baseado na primeira parte livro Malleus Maleficarum, ou "Martelo das Bruxas", de 1487, em que são descritos os poderes do coisa ruim (nota: não estamos falando do #EleNão), esse é o primeiro disco do AGGRESION todo cantando em português. Não obstante só conter seis faixas, esse não é um EP, já que todos os temas são longos, robustos e variados, dando ao AGGRESION talvez um rótulo de Black Metal Progressivo Old School - já que no seu som encontramos diversas passagens ríspidas de Heavy, Thrash, Speed, Death e Black Melódico - sendo bem original também já que as canções não possuem refrão e as letras não repetem.



Vindo de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, e ativo desde 2003, não por bruxaria os três membros do AGGRESION nasceram em 23 de maio de anos diferentes. Ainda que a coincidência surpreenda, mais inusitada ainda é o entrosamento e o som que sai dos instrumentos em "Revoada das Bruxas". Deve ter pacto ai no meio, pois os timbres de baixo e guitarra soam pesados, brutos se mesclando morbidamente a bateria insana dos precipícios e o vocal gutural que faz heresias em tons altos. Já após a abertura de bateria em "Endemoniados na Luxúria" mostra que Marcelo Pompeu e Heros Trench (do KORZUS) não queimaram à toa na eternidade pelas imprecações que fizeram no estúdio Mr. Som, em São Paulo. E já nessa faixa se nota o começo Black / Death Metal com parte instrumental mais cadenciada no solo. "Possessões Satânicas" começa lembrando Thrash Metal, mas é um Black com andamento mais Heavy cujo destaque é o solo de guitarra. Vale lembrar que o disco foi gravado  quase que inteiro numa aba só do instrumento de 6 (66) cordas, com overbus e dobras aqui e acolá.



"Arqueiros" é um dos destaques da presente obra e ainda que seja o tema de menor duração já chega trazendo a danação ininterrupta e possuindo a cozinha (ou caldeirão do inferno) mais bruta de todo o disco. "Sabá das Parteiras", em contraste, o número mais longo, que começa numa intro de baixo bem demorada, sem pressa, que desenvolve à partir de algo que soaria como um BLACK SABBATH setentista, indo mais para um Heavy Metal que quando entra o dumbo duplo desgraça tudo num Black Melódico que possui até vocal grave no interlúdio. Essa é também a faixa-título da obra. O fechamento com "Maleficarum" já entra trazendo a desgraça com cheiro de enxofre e agressão sonora aos ouvidos finalizando no brutal som extremo. 




As segunda e terceira partes do "Martelo das Bruxas", que descrevem como os inquisidores deveriam tratar as bruxas (note que mulheres somente são servas do capeta, bruxos homens não existem), foram usadas por fanáticos católicos para justificar o estupro, tortura e morte de mais de 100 mil mulheres somente na Europa nos séculos XV e XVI e posteriormente assassinou ainda mais mulheres nos novos mundos após eles serem invadidos pelos europeus. Já a se inspirar nessa obra, o AGGRESION segue caminho contrário, honrado ao pentagrama nas profundezas e criticando justamente o pensamento cristão conservador. Abrindo um parenteses, é uma pena e uma coincidência que o um demônio de verdade esteja na liderança das pesquisas presidenciais do país e seu pensamento seja permeado pelo ódio pentecostal e justamente voltado contra as mulheres. Todavia, a revoada e a revelação dos malefícios perpetrada pelo AGGRESION em seu registro mais coeso hão de forjar a fama do power-trio da escuridão como um dos grandes nomes do gênero no Brasil e no mundo. E não há pacto ou reza brava que possa evitar isso.



Com ilustração de capa assinada por Marcos Miller, a arte de "Revoada das Bruxas" é digna de ser a fachada de história em quadrinhos de personagens profanos. O encarte é um folder de três páginas com todas as letras e fotos do conjunto conjurando  ao vivo. Quem se interessar em adquiri-lo deve contatar o AGGRESION pelos sites relacionados ao final. Após o lançamento de "Revoada das Bruxas" o trio participou da coletânea "Satan Satan Smashes Fascims" recentemente lançado pelo M.R.U. (Movimento de Resistência Underground) ao lado de nomes como VIOLATOR, CRACKED SKULL, VINGADOR e outros grupos subversivos como o Metal nasceu (sem batismo) para ser.

Indicado para os fãs de: LUXÚRIA DE LILITH, MORBID ANGEL, VENOM


AGGRESION:

Eduardo Sparrenberger - Baixo e Vocal.
Adriano Caverna - Guitarra.
Felipe TerrorDeath - bateria.

Discografia:

Murmúrios Blasfêmicos (2008, EP, Cassete).
Forja Infernal (2012, Full-Lenght, Cd).
Revoada de Bruxas (2017, Full-lenght, Cd).
Satan Smashes Fascims (2018, Participação em coletânea, Cd).

Revoada de Bruxas: 35:12 - Nacional - Satã 3 vezes Produções

01 . Endemoniados na Luxúria (05:16)
02 . Possessões Satânicas (07:27)
03 . Arqueiros (04:18)
04 . Sabá das Parteiras (11:45).
05 . Maleficarum (06:26).

Sites relacionados:

https://www.facebook.com/pages/Aggresion/275906775867322?fref=ts
http://aggresion666.bandcamp.com/
https://www.youtube.com/user/aggresion696

segunda-feira, setembro 17, 2018

OS MUSICISTAS DAS MIL BANDAS: Steve Di Giorgio.

Em sua edição de número 57, o Rock Dissidente homenageou a vida e a obra de Steve Di Giorgio, o mais prolixo baixista da música pesada desde o fim dos anos 1980. Sendo mais lembrado por suas passagens pelo DEATH e o ICED EARTH, ele tocou com todo mundo; desde Black Metal ao Hard Rock com Sebastian Bach! Além disso, Steve Di Giorgio introduziu o baixo sem trastes no Metal, além de tocar com instrumentos de 3, 5, 6 cordas e duplos, sendo considerado - quase que unanimemente - com o baixista mais técnico e virtuoso da música pesada.

Ouça a narração com os fundos músicas de nosso podcast!



Ouças integralmente as músicas dessa edição de nosso programa!



Programa Combate no ar desde 2001 pela rádio Melodia FM, 102,3 transmitindo desde Varginha para mais de cinquenta municípios. O Programa Combate passa todo domingo, das 16 às 18 horas.

Edição também disponível pelo youtube.




No decorrer da quinquagésima sétima edição do Rock Dissidente rolamos músicas de SEBASTIAN BACH, AUTOPSY, DRAGONLORD, ICED EARTH e SADUS.

Gravado e disponibilizado nas redes sociais em 16/09/2018.

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Rock Dissidente no Programa Combate

Apresentação: Willba Dissidente. 
Produção técnica: Ivanei Salgado.Técnico de áudio: Gil Vicente.
Produção executiva: André "Detonator" Biscaro. 

Sites relacionados: 
http://rockdissidente.blogspot.com.br/
http://www.mixcloud/RockDissidente/ 
https://www.facebook.com/RockDissidemte/ 

http://www.radiosaovivo.net/melodia-varginha/ 
https://www.facebook.com/combatefm/

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sexta-feira, agosto 31, 2018

MORBID PROPHECY: o disco mais erudito do metal extremo brasileiro.


RESENHA - Thou Shalt Die - Morbid Prophecy.
NOTA- 8,0.


EP de estréia de um grupo formado por musicistas novos na cena, mas que inova dentro do gênero do Black Death Metal Melódico constituindo um dos discos mais filosóficos do Metal nacional. Em resumo e em sintese isso é tudo que temos a dizer nas superfícies sobre o MORBID PROPHECY, que ano passado apresentou seu primeiro registro fonográfico. Indo mais a fundo no trampo do quinteto encontramos um disco denso, sombrio, melancólico e pessimista ao filosofar sobre o maior medo e única certeza de todos os humanos que se imaginam vivos: a morte!




Muitas bandas, a maioria (absoluta, simples e qualificada) delas, de fato, demoram anos para lançar seu primeiro disco e muito mais ainda para construir uma obra conceitual. Teria sido então muita ousadia dos belo horizontinos já chegar com os dois pés no peito na intrepidez de debutar com uma obra temática? Teriam eles sido bem sucedidos ou o atrevimento desface em imprudência? O que ouvimos nos quase 20 minutos de "Thou Shalt Die"é disco que agradará os fãs de metal extremo com muitas passagens que não deixaram os headbangers mais tradicionais desamparados, com citações a Camus, Schopenhauer, Aristóteles e poemas gregos.



Começando com uma introdução que lembra a um filme de terror, é importante frisar aos que não estão familiarizados com a face mais melódica do metal extremo, que o som do MORBID PROPHECY pode ser definido, de maneira vulgar, como um heavy tradicional arrastado com teclados, bateria reta sem pedais duplos, vocais guturais mais altos e riffs mais extremos aqui e acolá. "A False Day of Peace", a abertura, é um excelente cartão de visita da sonoridade mineira com proeminência do refrão em lead de guitarra. "The Lake of Memory" dá seguimento com sua entrada no teclado, escalas maiores e partes declamadas no refrão contrastando com os urros na voz. Melhor faixa do trampo "Hellbound Theologians"é como as canções anteriores só que fecha um solo massa de guitarra que vai sumindo em fade. Chegamos ao final de tudo, "End of It All", também o tema mais diferenciado da presente feitura. Com os riffs mais tradicionais do principio do Death Metal, ela é um número bem cadenciado que soa como se girasse em torno de si com o vocal mais lento que vai se tornando mais berrado aos finalmentes.



Com encarte de oito páginas em papel fotográfico o disco "Thou Shalt Die" trata de uma forma de angustia que só os humanos, entre todos os seres animais, podem sentir: a angustia de antecipar a própria morte em pensamentos, de sentir que viver é demais para você e que você não compreende a vida. O trampo em si é muita bem feito e a única crítica que podemos fazer é soaria melhor com distorções e timbres mais densos e sujos; que se mesclariam em uníssono com a ideia da melancolia sufocante e claustrofóbica da vida que é abordada citando autores clássicos no disco. Uma obra erudita, bem composta e tocada; que a profecia mórbida seja a música do MORBID PROPHECY ser imortal! 

Recomendado para fãs de DARK FUNERAL, SATYRICON, CHILDREN OF BODOM, KALMAH,



MORBID PROPHECY:

Glauber Ataide - baixo e vocal.
Julio Cezar - guitarra base.
Sanzio Rocha - guitarra solo.
Jusmar FangShiyu - teclados.
Mateus Pedroza - Bateria.



Discografia:

Thout Shalt Die (Ep, Cd, 2017)

Nacional - Narcoleptica Productions - 2017 - 19:40

01 . Intro: You're Going to Die (01:05)
02 . A False Day of Peace (04:00)
03 . The Lake of Memory (04:33)
04 . Hellbound Theologians (04:32)
05 . The End of All (05:27)

Sites relacionados:

https://www.morbidprophecy.com/
https://www.facebook.com/MorbidProphecyBand/
https://morbidprophecy.bandcamp.com/
https://vk.com/morbidprophecy

segunda-feira, abril 16, 2018

Versos e músicas malditas: o encontro da poesia com o metal.

O encontro da poesia de Blake, Baudelaire, Yaets e outros escritores com o Metal pesado em suas mais diversas vertentes foi tema da quadragésima primeira edição do Canal Rock Dissidente dentro do Programa Combate. Desde que o rock começou que alguns músicos também eram poetas como Dylan, Smith, Morrison e outros, acompanhe então  como o som mais pesado do século XX se rendeu a uma das artes mais antigas da humanidade.

Ouça o audio completo pelo Mixcloud e continue mexendo no WhatsApp, rs!



Esse episódio foi sugerido pelo poeta, vocalista e baterista paraguaio Orlando Urué da banda de Heavy Metal cósmico ARCANO. Você nos ouvindo também está convidado a sugerir um tema.

No decorrer dessa edição declamamos poesias de Lord Byron (She Walks in Beauty), H.P. Lovecraft (Nameless City) e Orlando Urué (Amor Sideral), além de rolarmos sons de CELTIC FROST, BOLT THROWER, ARIA, ARCANO e THIN LIZZY!

Programa Combate no ar desde 2001 pela rádio Melodia FM, 102,3 transmitindo desde Varginha para mais de 50 municípios. O Programa Combate passa todo domingo, das 16:00 às 18:00.

Assista a gravação do vídeo pelo youtube!



Gravado e exibido ao vivo em 15/04/2018, sendo disponibilizado nessa mesma data no MixCloud  e no youtube.
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Rock Dissidente
 no Programa Combate

Apresentação, edição de vídeo e filmagem: Willba Dissidente. 
Técnico de Som: Adilson Mesquita.
Produção técnica: Ivanei Salgado.
Produção executiva: André "Detonator" Biscaro. 

Sites relacionados: 
http://rockdissidente.blogspot.com.br/
http://www.mixcloud/RockDissidente/ 
https://www.facebook.com/RockDissidemte/ 

http://www.radiosaovivo.net/melodia-varginha/ 
https://www.facebook.com/combatefm/

terça-feira, abril 10, 2018

Cracked Skull: "a história da humanidade é mais brutal que qualquer conto satânico".

Resenha - Social Disruption - CRACKED SKULL.
Nota: 8,0.

Um grupo jovem formado por ex-membros do CALVARY DEATH  e do DEADLINESS, o CRACKED SKULL é uma banda que começou e em pouco tempo, sem demo ou ep, já lançou debut "Social Disruption". A nova empreitada de velhos guerreiros do metal em Itaúna em Minas Gerais, esse power trio faz um death metal inovador que não foge da tradição e traz letras de críticas sociais tão contundentes que fazem "Que país é esse" soar tão inocente quanto "Ilariê". Que tal rachar seu crânio no jazz metal bruto de contestação social?



Um velho fantasma assombra a comunidade do heavy metal. O socialismo? Não! E assim aquela caótica pergunta se ainda seria possível criar algo de novo no som pesado sem soar apelativo, comercial e tão descartável quanto o "hit do verão". Juntando influências no Thrash do NUCLEAR ASSAULT, no peso bruto de KRISIUM e na inventividade do DEATH (o dos anos oitenta, nesse caso), o CRACKED SKULL faz Death Metal com mudanças de tempo e andamento junto à convenções inusitadas na seção rítmica. Inusitadas para o Metal, mas que seriam comuns à big bands de jazz. Em termos práticos é seguro de dizer que esses três rapazes de Itaúna por vezes soam como se estivessem sendo declaradas poesias sobre as injustiças sociais em bases pesadas com vocal gutural e, essas partes, não repetindo muito.



São muitas possibilidades que o som assim permite e o CRACKED SKULL está disposto à explorá-las. Logo após a intro "Forge the Fury", canção "Dark 1964" já abre estapeando os ouvidos do bangers que estavam se interessando pelo desenvolvimento da introdução. Aqui já vemos nas letras que abordam o Golpe de Estado sofrido pelo Brasil em 1964 como obra do imperialismo yankee uma marca distintiva do trio. "Rise Up Revolution", um dos destaques do disco só reforça o quanto é o conjunto e também que além dos crânios, os tempos estão todos quebrados.


O CRACKED SKULL é para ouvintes que querem ter de ouvir muito o disco para assimilar as músicas. Quem quer ouvir uma vez e já sair cantarolando sairá mal com o grupo. Mesmo "A Flame in The Dark Ages", que tem o refrão mais massa da bolachinha, mas tem o tempo mais "convencional", não escapa à regra. Tema com a maior duração do disco "Misery of Mind", não tem pobreza de espírito criativo, começando numa balada que vai mudando constantemente de tempo. Uma outra característica da banda é que os solos de guitarra, normalmente, são curtos, mas a guitarra sola o tempo todo em leads curtos nos espacinhos, enchendo fissuras, durante as convenções de baixo e bateria. Numa passeata de bons riffs, a pesada "Fascism" inicia bem metal e parte para o peso do groove. Uma dúvida que surge durante a audição do disco é porque tanto ódio às serpentes? Elas são associadas ao capitalismo, ao povo sendo ludibriado pela burguesia, ao fascismo emergindo em períodos revolucionários durante as letras da banda. E vale lembrar que no belíssimo encarte de doze páginas é todo desenhado à mão, não por computador e cada pagina a arte criada reflete a letra da música como o "Victim of Yourself" do NERVOSA. E na página dedicada a "Fascim", quem está ilustrada? A serpente!


Dando prosseguimento, "Selfish Gene" é a música mais caótica no pandemonim de riffs, viradas e fraseados que é o CRACKED SKULL. "Time of Ignorance" já é mais repetitiva na letra e o instrumental também é menos fracionado soando mais como um prog-metal mais vitaminado e bombado do que como um Death Metal, mas sem chegar a destoar do contexto. O encerramento é com "Terrorism", que crítica a paranoia que governos, como os do EUA, usam para justificar a guerra imperialista por lucro. É uma outra visão sobre o tema que aparece tanto nos jornais e revistas burgueses só que com sinais invertidos.



Encerrando o disco é digna de nota a foto do trio com diversos crânios estranhos. Além de um estranhamente rachado, há supostamente o ET de Varginha e também o mostro tricórnio do episódio 34 do SPECTREMAN.

Finalizando, nas palavras do baixista e vocalista Clênio "teria sido muito mais fácil fazer, mais simples e também falar de coisas que não existem e contos do capeta, mas história da humanidade, que não é outra senão a história da luta de classes é mais brutal e sangrenta e assustadora" que qualquer conto satânico". É seguro dizer, tanto como a quase toda riqueza se faz por herança, que o CRACKED SKULL rachará os crânios dos headbangers pelo som bruto e destrutivo como também por apresentas nova ideias violentas contra a opressão e dominação que existe desde que a bonança gerada pela produção foi apartada daqueles que à produzem. 




Quem quiser adquirir "Social Disruption", debut do CRACKED SKULL deverá contatar o conjunto nos sites oficial e pelo facebook (link no final).

CRACKED SKULL:

Clênio de Souza Faria (ex - DEADLINESS) - Vocal e baixo.
Tarciso Guimarães (ex- CALVARY DEATH) - guitarra.
Marco Túlio (ex- CALVARY DEATH, ex- TUMÚLO DE FERRO, ex- HEADHUNTER D.C.) - bateria

Discografia:
Social Disruption (Full Length, 2017, cd).

Social Disruption - 41'18'' - 2017 - Nacional - Independente. 

01 . Intro - Forge the Fury (01:01)
02 . Dark 1964 (04:23)
03 . Rise Up Revolution (05:38)
04 . A Flame in the Dark Ages (04:44)
05 . Misery of Mind (07:02)
06 . Fascism (05:22)
07 .  Selfish Gene (06:50)
08 . Time of Ignorance (02:54)
09 . Terrorism (03:22)

Sites relacionados (em português):
http://crackedskull.com.br/
https://soundcloud.com/cracked-skull-metal/
https://www.youtube.com/channel/UCGcXGTpKLq15AAu8ffH1bqw/

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sábado, outubro 26, 2013

PLACENTA: primeira banda metal só de mulheres no Brasil!

PLACENTA: suásticas, egos e inocência na primeira banda metal só de mulheres do Brasil.

"Ao mesmo tempo em que sentíamos um olhar repressor em cima da gente, existia outro olhar de curiosidade e expectativa por parte de todos. Afinal, até então, desconhecíamos qualquer outra banda totalmente feminina fazendo aquele tipo de som. Mas é muito grande o descrédito em relação às mulheres nesse meio underground, não acredito que tenha mudado e nem que mudará um dia...".

Ainda que sejam maioria na sociedade as mulheres, historicamente, foram preteridas em relação aos homens. Seja nos melhores cargos ou no acesso aos bens de capital cultural, às filhas de Eva foi legado o papel de coadjuvantes, enquanto que os machos foram grandes governantes, conquistadores e empreendedores. Muito infelizmente,  essa injusta construção do mundo foi repetida no rock e no metal; e por todo o mundo. No Brasil, em 1977 o surgimento do STRESS (PA), seguido pelo SHOCK (PB) dois anos depois, dá início do "movimento metal" por todo país, e bandas formadas só por homens começam a soltar suas demos, LP's e se apresentar ao vivo; nos levando a pergunta: quando foi que as mulheres começaram a formar bandas em nosso país?



Foi em Belo Horizonte, meados de 1985, que a guitarrista Vittória do Carmo, começou a banda PLACENTA. Este grupo, que desapareceu sem deixar registros, foi pioneiro por só ter mulheres na formação e por se dedicar ao metal extremo; na fronteira onde Thrash e o Death metal se digladiam. Vittória, entretanto, havia formado sua primeira banda só de mulheres em 1983, chamada LADY SATÃ, composta por sua irmã e outras parentes, interessadas em fazer Heavy Metal Tradicional na linha do TWISTED SISTER, QUIET RIOT e outros. Ao fim do LADY SATÃ, nome inspirado em um livro de ocultismo, Vittória criou o "Projeto Rock", que transformou um antigo boliche em palco para dois shows de metal, e depois som mecânico, onde o SEPULTURA se apresentou pela primeira vez.

"Bom, o tempo passou e em meados de 85, em Lambari, quando fui assistir ao lendário show da DORSAL ATLÂNTICA , conheci a Marilia que era namorada o Paulo do SEPULTURA. Voltamos  amigas e daí ela ficou encantada em saber que eu tinha uma banda, e começou com a idéia de montar uma e foi assim que o Placenta nasceu...".
 

Além da emergência do metal mais extremo, como CELTIC FROST, DISCHARGE, VENOM, a convivência com as demais bandas de Belo Horizonte, SARCÓFAGO, HOLOCAUSTO, MUTILATOR, CHAKAL, foi primordial para a mudança de direcionamento musical ocorrida no PLACENTA. Quanto ao fato do grupo ser formado só por mulheres não foi por feminismo, mas "para fazer algo inovador e diferente na minha terra", revela Vittória que só recentemente ficou sabendo do pioneirismo do PLACENTA por todo o Brasil.

Vittória e outra integrante do LADY SATÃ (1983/84), onde começou o sonho do PLACENTA.

Além de Marília no baixo e Vittória na guitarra, completavam a banda Paula (vocal), Ana Maria (guitarra) e Andréia (bateria). "A interação era perfeita, vimos todas as bandas que fazem parte dessa época nascerem, e inclusive algumas outras de outros estados, que ficaram amigos da gente, que vinham ver os shows aqui e acabaram formando suas próprias bandas também: o EXPLICIT HATE (RJ), THOR (ES), o P.U.S. (DF), o João gordo que não saia daqui, vivíamos trombando Carlos Vândalo (um grande ídolo, que hoje é um grande amigo)", relembra Vittória. O PLACENTA vivia ativamente o undeground de BH, participando de todos os eventos e acontecimentos da cena e isso causou um "burburinho", trazendo mais mulheres para os shows, que posteriormente criaram suas próprias bandas. Após o PLACENTA, surgiram na capital mineira o HAVOC (cujo nome original era COVA; o mesmo de um grupo em SP) e o PREPÚCIO, ambos conjuntos extremos compostos só por mulheres.




"Mesmo com toda essa evolução do mundo de lá pra cá, posso te dizer que as coisas aconteciam bem rápido, principalmente levando se em consideração que não existia o Youtube, rs. Eu recebia cartas de toda parte do Brasil, de neguinho que queria algum tipo de informação, e todo mundo se encontrava aqui em BH (...) apesar das tretas que rolavam existia uma união muito grande entre todos".

Cartaz do show de estreia do PLACENTA, desenhado por Igor Cavalera.

Toda a atenção que o PLACENTA gerou, entretanto, acabou por plantar a semente do fim do banda. Egos começaram paulatinamente a crescer e com eles desentendimentos entre as integrantes. Inusitadamente, o maior momento da "guerra de egos" veio justamente quando a banda alcançou seu ápice. Após o show de estreia, abrindo para o GUERRILHA (que era um projeto de membros do SEPULTURA com o MUTILATOR), no lançamento da coletânea "Warfare Noise I", o PLACENTA foi convidado pela Patti, dona da "Cogumelo Records", para participar do segundo volume do LP. Por ingenuidade e inexperiência, além de não acreditar no próprio potencial, a banda recusou. Estopim aberto para novas brigas e desentendimentos, pouco tempo depois, Vittória foi a primeira a sair do grupo e alguns meses depois a banda encerrou as atividades, em meados de 1987.





O PLACENTA, como já dito, não deixou registro oficial. Fitas de gravações de shows e ensaios foram perdidas. Existe somente um ensaio instrumental gravado com qualidade excelente, que Vittória pediu a Paula para gravar o vocal em estúdio, com a intenção de futuro lançamento, porém a mesma recusou a proposta.Ainda assim, dois vídeos circulam no Youtube com músicas do PLACENTA. "Madness ih the Bus" não é reconhecida por Vittória como uma música do PLACENTA e as demais integrantes não lembram quando e se ela foi composta pela banda! A outra música "Vodka" era uma brincadeira delas nos ensaios e nos shows, algo como "Hang The Pope" do NUCLEAR ASSAULT, que caiu no gosto popular, não sendo representativa do som ou das letras do grupo.




Na busca por sua própria identidade, o PLACENTA tinha como tema das composições mentes atormentadas, comportamento humano, as mazelas existências da raça humana. Como muitas das bandas mineiras da segunda metade dos anos oitenta, as letras do grupo eram todas em inglês. O visual das integrantes também era diferenciado e ousado. Maquiagem pesada, cintos de bala, spikes, rebite e sutians à mostra eram marca registrada do grupo. O fardamento seguia o mesmo pensamento de "acompanhar a banda dos meninos" e por isso a baterista aparece usando uma suástica nazista na calça.

"Aquela calça que a Andréia, nossa baterista, esta usando nas fotos, era do Igor Cavalera rs. Hoje penso que naquela época estávamos passando por um turbilhão de mudanças políticas no Brasil e no mundo, e sem contar as nossas mudanças pessoais, tudo que queríamos era polemizar nada mais". 




De acordo com Vittória, os adolescentes usam o visual como forma de auto expressão e proteção de suas próprias crises existenciais. Além da suástica, que a banda usava para chocar, causar, sem de maneira alguma fazer apologia do regime nazista de exclusão, Vittória aparece com um crucifixo invertido nas fotos; que na verdade pertencia ao Wagner Antichrist do SARCÓFAGO. Esse visual causou alguns problemas ao PLACENTA na época, garçons pedindo para sair do bar, senhoras fazendo sinal da cruz ao as ver pela rua...

PLACENTA ao vivo! Vittória, Marília, Ana e Andréia.

Falando em SARCÓFAGO, o PLACENTA não tomou partido em relação a briga que existia entre eles e o SEPULTURA. Além da baixista da banda ser, na época, namorada do Paulo Jr., a guitarrista Ana "andava ficando" com o Wagner. Além do mais, o Bibica (Sílvio) foi um dos empresário do PLACENTA e o MUTILATOR chegou a dar uma guitarra de presente para a Vittória; além do Max e o Igor (Cavalera) sempre a ajudarem e incentivarem com o instrumento.

No curto período de atividade, a banda saiu em pequeno artigo da Revista Metal, teve destaque num especial da revista que abordava a Cena Metal em Minas Gerais e também saiu em jornal local de Belo Horizonte. Infelizmente, não existem registros radiofônicos ou em vídeo.

PLACENTA na revista Metal.

Após o fim, a baixista Marília participou da banda MEGATHRASH durante a gravação do grupo no LP "Wafare Noise II", 1988, ironicamente na vaga que seria do PLACENTA. A guitarrista Vittória tentou se juntar a uma banda com homens, porém a mesma não vingou. Ela é a única que ainda "dá as caras" no underground e continua forte curtindo som. As demais moça seguiram caminhos diferentes, em estradas, ao que parecem, longe da trilha do rock.



Marília com o MEGATHRASH.

Ao longo do tempo e com o advento da internet, o PLACENTA voltou a ser falado, porém, infelizmente, com algumas distorções. Esperamos ter deixado claro que a banda NÃO durou até 1992 e que NÃO lançou um disco bootleg.

Vittória não mede palavras e afirma que "ao contrário do restante da banda, tenho um grande orgulho de um dia ter feito parte dessa história, foram grandes momentos vividos e que de certa forma ficaram eternizados, pelo menos pra mim. O meu azar foi ter estado nos lugares certos com as pessoas erradas"! Atualmente, ela continua residindo em Belo Horizonte e ligada à cena Metal, sempre sendo solicita e falando com alegria do legado do PLACENTA.

Primeiro show do PLACENTA!

Um desses exemplos é a participação da guitarrista no documentário MULHERES NO METAL, em uma ótima e reveladora entrevista. Além do PLACENTA, o documentário contém entrevistas e relatos de outras bandas como VALHALLA, FLAMMEA, DIVINE DEATH etc, além de clipes de outros grupos como PANNDORA, NERVOSA, VOLKANA, THE KNICKERS e outras.




Vittória também aparece na cobertura do lançamento do documentário.



PLACENTA

Paula - vocal
Ana Maria - guitarra
Vittória - guitarra
Marília - baixo
Andréia - bateria

Cartaz da "época de ouro" do metal de BH, indicando show do PLACENTA e de diversas outras bandas que fizeram história.

Sites relacionados (em inglês):

http://www.metaladies.com/bands/placenta/
http://www.metaleros.de/countries/brazil/brazil_maidens.html
http://www.metal-archives.com/bands/Placenta/12388
http://raf666underground.blogspot.com.br/2013/10/placenta-brazil-madness-in-bus-demo-1987.html