quarta-feira, janeiro 27, 2021

HERMÉTICA: ex-vocalista conta sua versão das tretas.

Cláudio O'Connor foi operário de chão de fábrica até os trinta anos. Era 1988 e ele teve a oportunidade de estar na formação original do HERMÉTICA, primeira banda de Thrash Metal argentina e também uma das poucas a fazer letras focadas nos trabalhadores e nos pobres. O HERMÉTICA foi formado das cinzas do V8, mítico grupo de Heavy Metal argentino que foi no seu tempo (1982-1987) o maior de seu país e, além de seguir muito celebrado até hoje, originou as maiores bandas portenhas: RATA BLANCA, HORCAS, LOGOS e o HERMÉTICA.


Claudio Alberto Castro, conhecido Claudio O' Connor. Fonte: divulgação.

Essa última, banda que O'Connor foi vocalista (com participações do baixista Ricardo Iorio na voz em algumas ocasiões), entre o final dos anos 1980 e começo dos anos 1990, foi um dos grupos mais bem sucedidos do Metal argentino. Afinal, o HERMÉTICA conseguiu fazer tours internacionais, tocar nos maiores estádios da Argentina, no primeiro Monsters of Rock de seu país (com BLACK SABBATH, KISS e SLAYER) e abrir shows do MOTÖRHEAD.




 https://youtu.be/Mw3bjMYjgmo


O HERMÉTICA acabou sumariamente no auge do sucesso, em 1994, após o disco "Vitimas del Vaciamiento". Assim como aconteceu com o V8, com o fim a banda, seus integrantes formaram novos grupos bem sucedidos: o baixista Ricardo Iorio formou o ALMAFUERTE, e O'Connor, junto com os remanescentes do HERMÉTICA criou o MALÓN. Infelizmente, os musicistas nunca se entenderam e vêm trocando farpas desde então; que inclusive influenciam os fãs do ALMAFUERTE e do MALÓN. Acompanhe trechos da entrevista que O'Connor concedeu ao site Ultrabrit em 2015, em que ele conta sua versão dos fatos.




- Você acha que o Heavy argentino hoje em dia ainda é tão radicalmente dividido?

Uma vez foi num rolê e tocava no som mecânico uma música que aparentemente foi dedicada a mim (em referência a "Triunfo" de ALMAFUERTE), mas eu não fiz caso. Uns garotos começaram a agitar e a cantar na minha frente. Um amigo quis ir ao bar pedir para tirarem a música e eu disse que não, que não colocaria condições para continuar bebendo lá. Quando fui embora, esses garotos que me provocaram estavam na varanda, eu os encarei e eles não disseram nada. Quando caminhei uma quadra começaram a gritar.


 

 - Mas se o HERMÉTICA original voltasse, eles estariam cantando as músicas e vendo a você.

Duvido que isso aconteça, ao menos com Claudio O'Connor.

- Sem você, Iorio (baixo e voz), o Tano (guitarra) e o Pato (bateria) uma reunião não tem sentido.

Esse já não é meu problema. Duvido que isso aconteça. Eu não posso subir no palco com uma pessoa que incentiva seus fãs a antipatizarem a banda de seus ex-companheiros. A verdade, não posso. A não ser que os cheques tenham muitíssimos zeros e com isso me aposente (risos). Duvido. Artisticamente, não tenho necessidade. Com MALÓN você tem tem a maioria do HERMÉTICA e tocamos músicas do HERMÉTICA. Por uma questão de tecnologia, elas soam melhor agora que antes. Só por uma questão de tecnologia, nada mais. Na verdade, não sinto a necessidade, nem sinto falta, nem nada. Nós (os três que formaram o MALÓN) fomos maltratados, sobretudo eu. E eu subo no palco para ser feliz.



 

- Você se refere a ser maltratado quando a banda se separou?

Vinha de antes. Por exemplo: eles me chamam de traidor. Esse tipo de insulto, nós não merecíamos. E, em todo caso, sou tão renegado que se querem que eu seja isso, o serei (...) no documentário do HERMÉTICA eu fui muito atacado. Dizem coisas que não aconteceram. Os egos, o dinheiro... nada a ver. O fim do HERMÉTICA não foi de um dia para o outro. E o foda é que não foi "se você ganha mais ou ganha menos", não foi "eu quero fazer compor e você não me deixa". Foi todo extra-musical.

- Como era a vida antes do HERMÉTICA?

Até os trinta trabalhei de operário de fábrica, não tinha armazém e nem negócio familiar. Aos 30 tive de decidir se era uma coisa ou outra. A principio tinha os filhos pequenos, tinha que me esforçar. Agora, não é que tenha propriedades, mas eu não posso me queixar. Em um momento tive que tomar essa decisão. Tinha um bom salário, mas em um show ganhava o que recebia por uma quinzena. Então, me disse "tenho que me dedicar a isso, não tenho que ter outra coisa, se não depois vai me custar mais".





- É possível viver de música?

Sim, se pode viver de música. Não é fácil. Depende de cada um. Da visão e do compromisso de cada um. De dizer "me jogo nessa e morrerei nessa". Eu tenho que me dedicar a isso e nada mais, porque as pessoas que vão me ver e compram os discos me veem como um personagem, e querem isso, que seja tudo que eu seja. Meu emprego é esse.

Discografia Claudio O' Connor:

MARK 1
Demo Tape (1988).

HERMÉTICA:
Hermética (1989).
Intérpretes (1990).
Ácido Argentino (1991).
En Vivo Argentina (1993).
Vitimas de Vaciamiento (1994).
Lo Último (1995).
En Concierto I y II (1996).



O'Connor em diferentes momentos de sua carreira musical: com o HERMÉTICA (acima) e com o MALÓN (abaixo).

MALÓN:
Espiritu Combativo (1995).
Justicia o Resistencia (1996).
Resistencia Viva (1997).
El Regresso mas esperado (2012).
360° (2013).
Nuevo Orden Mundial (2015).

O'CONNOR:
Hay un Lugar (1999).
Yerba Mala nunca muere (2000).
Dolorización (2002).
Vive Siempre (2003).
El Tiempo és tan pequeño (2004).
Estamos pariendo (2006).
Naturaleza Muerta (2008).
La Década Tour (2009).
Rio extraño (2010) .
Un lugar que nunca muere vol. 1 (2011).
Un lugar que nunca muere vol. 2 (2011).
Un poco de respeto (2012).
La Grieta (2016).

Leia a matéria original:


https://ultrabrit.com/oconnor-me-da-bronca-ver-a-iorio-asi-porque-yo-le-tengo-carino/

Nota:

Willba Dissidente agradece ao amigo Felipe Joaquim por essa tradução e, como fã do HERMÉTICA, do MALÓN e  do ALMAFUERTE, lamenta toda essa situação.

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