segunda-feira, agosto 29, 2016

África: mulheres negras no metal contra a tradição e a domesticidade.


 As Rainhas da Cena metal em Botsuana!

Tradução e adaptação de Willba Dissidente para o artigo "The Queens of Botswana’s Metal Scene", escrito por Carey Dunne do site Hyper Allergic.

Debbie Baone Superpowers
Beavis & Butt-Head, em suas camisetas do AC/DC ou METALLICA, pode até ser o esteriótipo do headbanger no imaginário coletivo ocidental: um cara caucasiano que curte bater cabeça e odeia autoridade, encontrado majoritariamente nas cidades estadunidenses ou países nórdicos com longo e sombrios invernos e muitas igrejas para queimar. Porém, a mostra "Leather Skins, Unchained Hearts" fotógrafo sul africano Paul Shiakallis possibilita uma alternância visual para essa imagem. Ela documentou as mulheres cobertas de couro da subcultura do Metal botsuanês chamado "Marok", que se traduz por "rocker" em Setswana.

Florah Dylon com seu filho Younggal Bison.
 Ano passado (2015), Shiakallis conheceu um grupo de Rainhas, como as fãs mulheres do Marok gostam de se chamar, em um rolê em Gaborone, capital de Botsuana. Usando seus alter-egos de Rainhas, essas mulheres usam nomes como Onalenna Angel of Darkness, Amokian Lordess e Phoenix Tonahs Slaughter. "Elas tinham essa estima e confiança nelas mesmas - de poder ser sem o medo de serem reprimidas", Shiakallis contou ao Hyperallergic.

Phoenix Tonahs Slaughter. 
Essa auto-expressão é rara para as mulheres na sociedade conservadora patriarcal de Botsuana. Como a cultura mainstream geralmente aponta o Metal como "satânico", muitas mulheres do movimento Marok usam roupas mais tradicionais de dia e só revelam seus brutais alter-egos nas fotos do facebook; posando em total privilegio metal, geralmente em frente à árvores externas à noite. "Eu creio que o facebook nos permite ser quem somos. Só garotas que que acreditam em si mesmas e não tem medo de se expressar podem ser rockers", uma Rainha, Phoenix Tonahs Slaughter, disse a Shiakallis. "Elas não tendem a posar agressivamente como os homens fazem, então eu gostei que elas mostraram um lado mais 'leve' do movimento Marok", disse Shiakallis.

Millie Hans
Shiakallis começou a fotografar essas Rainhas em suas casas, um projeto que se provou mais difícil do que ele esperara. "Cada retrato que eu bati quase nunca aconteceu", Shiakallis conta. "Às vezes, o namorado ou marido da Rainha vinha a frustar as fotos, já que eles não queriam que as suas parceiras fossem fotografadas ou mesmo que estivessem na presença de outro varão.Alguma Rainhas estavam relutantes em posar para o ensaio, preocupadas onde essas imagens iriam parar, uma vez que elas ainda estão se afirmando enquanto rockers".

"From Mokatse Boulder", visão de uma cidade interiorana botsuanesa.
Em cintos de balas, algemas de tachinhas, jaquetas de couro, bandanas e camisetas do IRON MAIDEN, as mulheres nas fotos de Shiakallis lembrar personagens do cinema pós-apocalíptico, como os guerreiros da estrada de Mad Max. As vestimentas Marok fundem os estilos dos anos do Heavy Metal das décadas de 1970 e 1980 (especialmente na capa de "Ace of Spades" do MOTÖRHEAD); as jaquetas de couro franjadas e botas negras da grande comunidade motociclista; e os chapéus, esporras e vestimentas de cowboys de muitos agricultores da zona rural do país. Posando contra o pano de fundo das vilas rurais, quartos pintados de pastel e acolhedoras salas de estar, essas Rainhas iluminam como a subcultura do Marok é uma forma de mundo fantasia, uma fuga dos confins da tradição e da domesticidade. 

Snyder.
SKINFLINT, METAL ORIZON, WRUST, CRACKDUST, OVERTHRUST e AMOK estão entre as maiores bandas de Metal em Botsuana, mas como a cena Marok é muito pequena, eles só fazem shows de meses em meses. "Quando eles têm um show, rockers de toda a Botsuana fazem o que for para comparecerem, ainda que tenham de viajar 700 Km de uma outra cidade", confidencia Shiakallis. Nos festivais ou shows com cast maior, os Marok costumam se unir com antecedência para "marchar por uma causa"."Eles primeiro elegem uma instituição de caridade para doar e então marcham juntos liderados por um homem Marok arrastando correntes no chão enquanto o desfile de headbangers se amontoa ombro à ombro para encenar e lutar em danças rituais". "É uma uma visão muito surreal", encerra Shiakallis.

Ludo Dignified Queen Morima.

Willba agradece a Ane Tysondog, sua melhor amiga, que é negra, headbanger e mãe, por ter encontrado o texto original.


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