Publicado originalmente no site Rockeiro Brasil em abril de 2013.
Poucos são os grupos de rock pesado que conseguem atravessar décadas
sendo sempre reverenciados por seus fãs. AC/DC, UFO, BLUE ÖYSTER CULT, e
outras, são bandas que vêm desde os anos 70 buscando aquilo que somente
o THE ROLLING STONES conseguiu alcançar, tendo uma década a mais de
carreira que eles: continuarem sempre na ativa e nunca lançando um único
disco decepcionante aos seus fãs. Não estamos fazendo referência à discos que carecem de inspiração nas
composições, ou a falta de um membro-chave do grupo faz toda a
diferença, como poderia ser o “The X-Factor” do IRON MAIDEN. Estamos
falando de bandas que, subtamente, têm uma mudança bruta no seu estilo
musical, desapontando a legião de fãs que as acompanhavam; à partir dai a
banda ou voltou ao seu gênero de origem ou aceitou ter público
reduzido.
No caso do Hard Rock e do Heavy Metal, nosso foco aqui, o período que
mais desses deslizes aconteceram foi na década de 1990. Talvez cansados
do estilo que de rock que faziam há anos, ou por pressão das gravadores
e empresários por querer algo “mais grunge ou alternativo” muitas
bandas outrora de respeito, cometeram deslizes terríveis (aos ouvidos
tradicionais).
Listamos abaixo dez discos e bandas que se enquadram nessa categoria, respeitando a ordem cronológica dos lançamentos:
01 – DIO “Strange Highways” (1993).
Muitos vão estranhar uma celebridade tão celebrada do metal encabeçar
a lista. Outros vão dizer que a culpa é do guitarrista Tracy G (que
inclusive foi tratado com desprezo pelos fãs quando se apresentou com a
banda no Brasil, no Skoll Rock). Há quem indique que esse disco não é
“tão ruim”, que a última faixa ou uma outra se salva. É díficil chegar a
um consenso que não seja que esse é o play com sonoridade mais estranha
já lançado pelo soberbo vocalista. A aceitação do CD foi tão ruim que
esse é o único disco do DIO (até onde apuramos) que nunca foi lançado no
nosso país e que no álbum seguinte “Angry Machines” (1996), a banda
optou por voltar onde o “Dehumanizer” (1992) do BLACK SABBATH havia
parado. Na época era comum ouvir os headbangers dizendo algo como “mas o
DIO foi sair, de novo, do BLACK SABBATH para fazer isso?”.
02 – LOUDNESS “Heavy Metal Hippies” (1994).
Oriundos da terra do Sol Nascente, o LOUDNESS foi uma das bandas mais
respeitadas da década de 1980. Após a saída de Minoro Niihara, eles
tentaram passar o microfone a Mike Vescera (MALMSTEEN, DR. SIN) e
finalmente Masaki Yamada (EZO), se firmou como vocalista em 1992. Se no
primeiro disco (auto-intitulado) dessa nova formação eles ficaram ‘um
pouco mais modernos’, foi em “Heavy Metal Hippies” que a coisa desandou.
À partir dai, o grupo japonês aderiu cada vez mais ao som “modernozo de
experimentação”, nunca voltando atrás; só que por causa disso os
lançamentos posteriores da banda ficaram restritos ao mercado japonês.
03 – DEF LEPPARD “Slang” (1996).
Foi no mesmo ano que outrora banda inglesa de Heavy Metal, que já
havia se firmado no Hard Rock nos dois discos anteriores, se apresentou
pela primeira, e última, vez no Brasil. Quando esse clipe começou a
circular na MTV e a música a tocar nas FM’s foi decepção geral. Ainda
que os apresentadores pedissem que o público “tivesse mente aberta” e
que “rock era mais só aquilo”, não teve jeito. Ainda que não tenha sido o último disco
do DEF LEPPARD lançado no Brasil, um dos dois shows que a
banda faria em São Paulo foi cancelado por falta de público. O grupo
nunca mais voltou à sonoridade apresentada entre 1979-1992, ainda que
tenha incluído músicas antigas como “Hello America” em seus set-lists
das últimas turnês.
04 – DOKKEN “Shadowlife” (1997).
Eis que novamente encontramos o baixista Jeff Pilson na lista. O
grupo de hard’n'heavy do vocalista alemão Don Dokken havia acabado
oficialmente em 1989, com seus membros buscando carreiras solos. Em 1995
a banda se re-agrupou e eles lançaram “Dysfuncional”, que não obstante a
baixa repercussão, agradou os fãs mais fiéis do conjunto. O lançamento
seguinte foi a derrocada. Eles haviam virado grunge? Ou um grunge com os
solos virtuosos de Geroge Lynch? Não deu certo e para continuar
existindo o grupo teve de voltar ao rock pesado que eles sabem fazer
melhor à partir de “Erase the Slate”, de 1999.
05 – JUDAS PRIEST “Jugulator” (1997).
Esse foi um disco que dividiu opinões à época de seu lançamento. O
Judas Priest havia abaixado a afinação de seus instrumentos, incluído
efeitos e cadenciado o andamento das músicas. Muito pesado, é verdade,
porém anos luz de distância de discos clássicos como “Hell Bent for
Leather” ou “Screaming for Vengeance”; o que causou descaso de muitos
fãs. Injustiçado nessa estória foi o novo vocalista Tim “Ripper” Owens
(futuramente no ICED EARTH), que foi acusado de ter sido os responsável
por tantas mudanças na banda. O grupo ainda resistiu por alguns bons
anos nessa pegada antes de chamar de volta o membro fundador Rob Halford
(FIGHT, HALFORD) e apostar numa sonoridade mais tradicional.
06 – KISS “Carnival Of Souls” (1997).
Quando essa música estreiou rádio Brasil 2000 o locutor dizer, “mas é
o mesmo o Paul Stanley que está cantando? Que diferença”! Não era só a
voz, como tudo estava mudado no KISS. À época já havia tido o “Acústico
MTV” e a formação original já estava escalada para voltar mascarada,
então não houve turnê ou clipes para “Carnival Of Souls”, apenas o
lançamento em CD simples (que já podia ser encontrado antes de sair em
versão pirata). Maior baixo alcançado pelo KISS na sua fase sem
máscaras, esse disco e essa sonoridade foram totalmente esquecidos.
07 – MÖTLEY CRÜE “Generation Swine”
“Eles já foram posers, agora são porcos” dizia nota na revista Rock
Brigade quando esse disco foi lançado. Pobres suínos, nunca foram tão
ofendidos. Para quem começou como uma banda de Heavy Metal tradicional
(em seus dois primeiros discos) e depois passou a ser símbolo da geração
Hard Rock, o MÖTLEY CRÜE escorregou no feio no tomate a tentar se
parecer o MARLYNM MANSON. Pior, justamente no disco que marcava a volta
do vocalista original Vince Niel, após um cd mal-sucedido com John
Corabi (UNION) nas guitarras e vocais. Felizmente, no próximo álbum,
“New Tattoo”, 1999, o grupo voltou onde “Dr. Feelgood” havia parado dez
anos antes.
08 – RATT “Collage” (1997).
Realmente o ano de 1997 foi ruim para os fãs do metal oitentista.
Outra banda reunida para lançar um disco nesse ano, o RATT, passou longe
de clássicos como “Out Of the Cellar” ou “Dancing Undercover”. O som e
os visuais modernos da década de 1990 realmente não combinou com o
grandioso RATT, que só foi se redimir com o público fã dos anos oitenta em 2010, com o disco
“Infestation”.
09 – W.A.S.P. “Kill Fuck Die” (1997).
Conhecido como o disco da geladeira, 99.9% dos fãs acham que esse cd
deveria ter ficado no freezer. Após dois discos solo lançado sob o nome
de W.A.S.P., Blackie Lawless se juntou ao seu antigo parceiro Chris
Holmes e resolveram compor um disco inteiro juntos… que descrevesse
musicalmente o vício em cocaína! Misturar metal e música eletrônica foi
falha total. Em sua autobiografia (30 anos de Trovão), Lawless se
lamenta pelo disco, alegando que a música foi composta pensando-se no
show ao vivo e o correto é fazer ao contrário. Que desculpinha, hein? De
positivo, “K.F.D.” deu um núcleo forte à formação do W.A.S.P. e
remontou o grupo enquanto uma banda; que nos lançamentos posteriores
voltado ao metal tradicional com toques de Hard Rock. Ainda assim, o
grupo tocou “Kill your Pretty Face” na sua primeira apresentação no
Brasil em 2005. Teria Lawless realmente se arrependido por “K.F.D.” ou a
perspectiva de perder o público o assustou?
10 – SCORPIONS “Eye to Eye” (1999)
Não é por Klaus Meine e Mathias Jabbs terem cortado o cabelo. São
pelas influências apresentadas no disco serem tão distantes do som
clássico dos alemães quanto o visual de Hulk Hogan é do de Dee Snider.
“Eye to Eye” é unanimamente o disco mais odiado entre os fãs de
SCORPIONS. Note que a banda já havia mudado habilmente de estilo, dentro
do hard rock, mas sempre angariando mais fãs. Felizmente, para os
discos posteriores, “Eye To Eye” não passou de um pesadelo.
*
Encerramos nossa viagem. Lembramos que bandas como PANTERA, ANTHRAX e
METALLICA não são citadas aqui, por elas terem conseguido angariar mais
e mais fãs com a sua mudança de sonoridade nos anos 90. Sentiu falta de
alguma banda? Alguém não deveria estar aqui? Então, use o espaço de
comentários abaixo para expor sua opinião, sempre lembrando de se
respeitar quem faz o site e as opiniões diversas.
Nos anos 2000 muitas outras bandas também resolveram se modernizar a alterar seu estilo… mas isso é assunto para outro texto.
Agradecimentos à Nádia Schenker por lembrar do SCORPIONS e do DEF LEPPARD.
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